9 de novembro de 2010

Sinceramente, não sei mais o que me levou a continuar este blog. A ideia de que, talvez, eu pudesse ter algum talento, ao menos para escrever, deve ter passado por minha cabeça em algum momento. Bom, sinto que eu estava errada. De qualquer forma, ainda não sei o que farei. Pode ser que eu venha a postar aqui novamente, mas não tenho me sentido muito motivada nos últimos tempos, o que é o meu normal. Não sei o motivo das explicações, já que ninguém lê mesmo, rs.
Até um dia. [?]

28 de outubro de 2010

O Garoto e a Chuva (preguiça de escolher um título melhor, rs)

Uma chuva fina caía lá fora – o garoto a observava através do vidro da janela. Ele sempre fazia isso. Nunca saía de casa, mas, sempre que chovia, se postava diante da janela, sozinho, e achava mágico esse momento. Para ele, não havia nada mais lindo que a imagem da chuva caindo. A cena o tocava profundamente e fazia com que ele, completamente imóvel, passasse horas e horas, apenas a observá-la. Por que faria qualquer outra coisa? Aquilo era tudo que ele precisava.

O suave som da chuva caindo, tocando ruas, casas, árvores e calçadas, era como música para os ouvidos do garoto. Isso o acalmava e, eventualmente, fazia com que ele fechasse os olhos, apenas para ouvir com mais atenção. Porém, não permanecia assim por muitos segundos e logo os abria novamente. Como seria capaz de ignorar a cena que se passava lá fora? Ao mesmo tempo que a melodia da chuva – sim, era, definitivamente, uma bela melodia - despertava nele o desejo de apreciá-la individualmente, ela também o levava a ceder à curiosidade de assistir às gotas d’água sendo derramadas. Elas pareciam dançar para ele. Elas acompanhavam a melodia com movimentos de extrema naturalidade, mas num compasso primoroso. A chuva se exibia e seduzia o garoto a assisti-la e ouvi-la. Era irresistível. A sensação era inigualável. Visão e audição pareciam formar um par perfeito, e um sentido se impunha como essencial ao outro.

A chuva caía de forma cada vez mais intensa e a satisfação do garoto crescia proporcionalmente. Ele se sentia como se estivesse assistindo a um filme, aguardando, ansiosamente, o momento em que ocorreriam os trovões e relâmpagos. Por enquanto, era como se o filme estivesse em seu início - as gotas o protagonizavam e os trovões e relâmpagos apareceriam como antagonistas. A crescente intensidade da chuva poderia representar as complicações ao longo da suposta trama. Dessa forma, o garoto se perdia em intermináveis divagações, afinal, o fenômeno, ao qual ele tanto assistia, era a arte na sua forma mais pura e primária. Identificava ali a música, a dança, o teatro. Talvez ele estivesse tão alheio ao restante do mundo que esses pensamentos fossem besteiras, loucuras. Talvez fizessem algum sentido.

O garoto se manteve ali, parado, durante horas. A chuva já não se intensificava mais. O seu som já não transmitia a mesma sensação de conforto. O céu escurecia, trazendo a noite, tornando as gotas invisíveis. Nem mesmo relâmpagos apareceram. Para onde fora toda a arte do momento? Como isso pôde acontecer? O céu, agora, o privava de assisti-la. A melodia se fora. Era como se sua visão e sua audição tivessem perdido a validade.

Perguntas não paravam de surgir na mente do garoto. Por que ele não podia ter o direito de aproveitar a chuva em paz? Ela parecia o trair. Será que alguém era capaz de adorá-la tanto quanto o menino o fazia? A chuva tinha que ser dele, e só. Dele que sempre a observara e escutara à sua melodia, que dedicara seu tempo a ela em todos os dias nos quais ela surgira. O que ele faria agora, sem ela?

O garoto nunca havia tocado a água da chuva. Ele nunca tivera coragem para tanto. Mas e agora que nada lhe restava? Qual seria a sensação de senti-la molhando sua pele, seus cabelos, suas roupas? Ah, mas ele não se atreveria a sair da casa. Ele não tinha essa permissão. Além de tudo, o que poderia acontecer, caso ele se entregasse de vez à chuva? Mas... por que não se arriscar? Sim, ele se arriscaria. Ele sempre morrera de vontade de sentir a chuva, e o faria naquele momento.

Um relâmpago, finalmente, iluminou o céu, e o garoto viu isso como um sinal para seguir em frente na sua decisão de ir até o lado de fora da casa. E assim foi – ele correu até a porta de saída, abriu-a vagarosamente e permaneceu ali parado por um instante, olhando a chuva e juntando coragem. Que tipo de pessoa precisa de coragem, para isso? Quem nunca havia se molhado com a água da chuva? Aquele garoto, porém, sempre fugira disso. Passou sua vida inteira a observar a chuva, sem nunca ousar ir até ela. Ele sempre tivera a impressão de que ela o chamava, mas nunca atendeu aos chamados. Ele estava bem daquele jeito. A chuva o agradava daquele jeito. Mas agora ela o obrigava a fazer sua vontade. Ela o chamava de egoísta. Ou, talvez, simplesmente queria se exibir mais um pouco e mostrar outro de seus ‘poderes’.

O garoto suspirou e, sem pensar em mais nada, atravessou a porta, correu e parou no meio da rua. A sensação de sentir a água da chuva molhando seu corpo era boa. Ele se sentiu livre. A chuva começou a se intensificar vagarosamente – ela também queria se sentir livre. O garoto começou a andar, com os braços abertos, os olhos fechados. Ele não precisaria mais da visão. Nem mesmo da audição. Não havia mais necessidade, agora que ele podia sentir a chuva. Ela, por sua vez, queria forçá-lo a ouvi-la – se intensificou mais e mais, e trovões já podiam ser escutados.

Aquele garoto já exibia um profundo prazer, esbanjando um largo sorriso no rosto. Corria pela rua, pulava nas poças d’água, espalhava água pelo corpo. E não se cansava. Suas roupas estavam encharcadas, mas ele já não se importava. Na verdade, ele queria muito mais e, quanto mais chuva ele desejava, mais chuva caía. Suas gotas agora eram grossas e atingiam com força a pele do garoto. Os relâmpagos e trovões não cessavam, os últimos manifestando-se cada vez mais alto. A chuva parecia querer dizer alguma coisa.

A situação estava incontrolável. O garoto parecia cada vez mais insanamente feliz. Essa era a melhor sensação que ele já tivera – e ele não parava de repetir isso para si mesmo. A água fria dava-lhe a impressão de estar sentindo, de fato, a essência da vida. Ele se sentia pronto para viver, dali para frente. Finalmente se sentia como se estivesse vivendo plenamente.

Os relâmpagos se tornavam cada vez mais frequentes, e o garoto corria feliz, sentindo como se aqueles clarões proporcionassem maior beleza à cena. Ali estava a arte que ele sentira falta. A cada novo trovão, ele deixava escapar um igualmente novo riso. Até que, finalmente, houve o maior clarão até então, o momento de maior prazer, quando a vida gritava de dentro do corpo do garoto. Um trovão extremamente alto anunciava o acontecimento - um raio atingiu a cabeça do jovem inocente. A chuva se vingara. Ele morreu.

27 de outubro de 2010

O Quarto (vazio)

Eu ouço alguém bater na porta. Bate uma, duas, três, quatro vezes. Nada digo. Bate cinco, seis, sete, oito vezes. Eu suspiro e me pergunto quem pode estar batendo. Bate nove, dez, onze, doze vezes. Quem diabos insiste tanto? Bate mais uma vez e, vagarosamente, abre a porta.

Não sou capaz de identificar quem é aquela pessoa parada. Aquela que segura a maçaneta da minha porta, mantendo-a aberta e deixando um pequeno feixe de luz invadir meu aposento. Não quero luz. Digo à pessoa que ela deve entrar e fechar a porta, se pretende permanecer ali. Ela me ignora.

A pessoa tenta me enxergar, mas parece não conseguir. Ninguém consegue. Ninguém nunca conseguiu. Ela abre mais a porta, permanecendo do lado de fora do quarto. A luz agora me permite identificar o sexo da pessoa – é um garoto – mas isso não me interessa. Nada me interessa. E eu não gosto da luz.

O garoto entra no quarto, ainda com a porta aberta, e ali se posta de pé, estático, olhando para mim. Ele está no topo da escada. Eu estou no patamar de baixo. Dez degraus separam aquele garoto enxerido de mim. Meu quarto foi construído para ser dessa forma. Foi planejado para manter-me afastada de qualquer outra coisa. De qualquer outra pessoa.

Eu me pergunto qual será a intenção do garoto. O que ele pretende invadindo o meu quarto? O que ele quer de mim? O que ele espera de mim? Eu não tenho nada, não sou nada. Não sou capaz de fazer absolutamente nada para agradá-lo. Não é isso que as pessoas querem? Ser agradadas?

Talvez o garoto só queira alguém para conversar, mas eu não sou a pessoa certa. Nunca fui a pessoa certa. Sempre fui errada. Sempre fui um erro. E, de qualquer forma, o que ele poderia conversar comigo? Sou vazia. Sou um grande vazio que insiste em permanecer dessa forma. Intocável, imutável. Não tenho nada a acrescentar.

O garoto continua em silêncio. Ele fita minha imagem, que eu não sei qual é. Não sei o que pareço aos olhos dele. Não sei o que pareço aos olhos de ninguém. Não sei o que ele está vendo, ou se está vendo algo, de fato. Peço ao menino, novamente, que feche a porta. Sou ignorada mais uma vez. Será que perdi minha voz? Será que já não possuo nem mesmo isso? Será que virei, realmente, um grande ‘nada’? Não, quem sou eu pra ser ‘grande’ alguma coisa? Sou pequena. Irrelevante. Nem mesmo um grande ‘nada’ eu sou capaz de ser. Sou simplesmente um nada. Um vazio, sim, mas pequeno, praticamente inexistente.

Impressiono-me com a capacidade que eu tenho de me perder em pensamentos – vazios, obviamente. Impressiono-me, porque noto que o garoto descera três degraus. Como ele ousa chegar tão perto? Ninguém nunca se aproximara tanto assim de mim. Aquilo me assusta. Olho para o rosto do garoto com um olhar questionador. Ele desce mais um degrau, carregando uma expressão serena em seu rosto. Aquilo me acalma, ao mesmo tempo que me assusta. Por que ele está fazendo aquilo?

O garoto esboça o que deveria ser um sorriso, suponho. Ele não deve ter o costume de sorrir. Eu não tenho o costume de sorrir. Digo, não de verdade. Sorrio, é claro, mas o faço para não precisar explicar minhas tristezas às pessoas. Ou tentar explicar, já que, na realidade, nada deve fazer sentido. Já que eu sou vazia. Já que minhas palavras são vazias.

Ah, sim, o garoto ainda sorri. Aquilo desperta em mim a vontade de fazer o mesmo, mais por impulso e necessidade de retribuição do que por algo verdadeiro e espontâneo. Porém, não sorrio. Permaneço fitando o garoto. Fito seus olhos. Seus olhos amendoados e escuros. Não sei ao certo a cor de seus olhos. Quero verificar qual é, me aproximando do menino. Não, não quero que ele se aproxime. Estou com medo.

O menino desce mais três degraus, a passos ligeiros. Começo a tremer e os pêlos de meus braços se arrepiam. Como ele tem coragem de se aproximar tanto de mim? Como ele me achou? Me encolho sentada no chão, abraçando minhas pernas dobradas e abaixando minha cabeça, deixando que meu queixo fique entre meus joelhos.

Alguns segundos se passam e eu ouço o garoto descendo mais um degrau. Dois degraus nos separam. Meu corpo treme cada vez mais e eu resolvo, corajosamente e movida pela curiosidade, olhar para o rosto do menino. Fito seus olhos novamente. Ele não está mais sorrindo. Ele parece triste. Isso atinge meu peito como uma bala de revólver. Ele havia sorrido, mas eu o assustei. Eu o deixei triste. Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Isso parece deixá-lo ainda mais triste. Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto. O garoto desce mais um degrau. Não! Isso não pode estar acontecendo. Ele não pode me ver chorando. Ninguém pode. Por que eu estou chorando? Por que eu não consigo parar? E por que esse menino me encara com uma expressão de tristeza, como se ele se importasse com o que eu sinto? Como se ele se importasse comigo. Ninguém se importa comigo. O que ele pensa que está fazendo?

As lágrimas não cessam e eu abaixo minha cabeça novamente. Por que o garoto não vai embora? Já emito sons ao chorar, por que isso não o assusta? Quero que ele vá. Quero que ele fuja para bem longe e nunca mais volte. Ele não sabe que está fazendo algo que não devia? Ele pode se machucar. À toa. Por mim. Fuja, imbecil!

- Vá embora! – eu grito e, dessa vez, estou certa de que ouvi minha voz. Ela não sumiu.

O desespero toma conta de mim e choro cada vez mais alto. Não é de tristeza, o meu pranto. É algo difícil de se explicar. É um misto de medo e nervoso. É algo completamente novo. Completamente desconhecido.

Ouço o garoto descendo o último degrau e se sentando. Sinto que ele está de frente para mim. Não levanto minha cabeça e ainda choro, apertando meus olhos ao máximo, como se quisesse deixar que todas as minhas lágrimas caíssem de uma só vez. Forço-me a ficar em silêncio, a chorar em silêncio como sempre fiz até hoje. Não consigo. Isso me desespera. Minha cabeça começa a latejar de dor instantaneamente. Meu corpo treme. Minhas mãos suam. O garoto permanece em silêncio.

Ainda de cabeça baixa, consigo recuperar fôlego para falar:

- Como você me encontrou aqui? – minha voz sai trêmula, baixa e confusa. O garoto não responde.

Eu ‘engulo’ meu choro por completo e fico quieta, esperando uma resposta do garoto. Assim permaneço durante longos e intermináveis minutos. Passo meus olhos fechados em meus joelhos, na tentativa de secar as lágrimas acumuladas. Dou um longo suspiro e levanto minha cabeça. Encaro o garoto que parece surpreso e admirado ao ver meus olhos de perto. Suponho que eles estejam mais verdes que o normal. É como ficam quando choro.

O garoto sorri novamente, encarando meus olhos, fuzilando-os com os dele. Isso me intimida, mas o meu medo já diminuiu. Vejo que o menino parece inocente e talvez esteja se divertindo com a situação. Ao menos uma serventia eu tenho. Divirto estranhos. Divirto o mais estranho do estranhos, porém o ser mais interessante que eu já conheci em toda a minha vida. Em toda a minha inexpressiva e pacata vida. Talvez esse seja o clímax dela.

Ele começa a afastar seus lábios um do outro, como se fosse falar alguma coisa. Encaro aqueles olhos amendoados ansiosamente, aguardando. São castanhos, os olhos dele. Maravilhosamente castanhos. O garoto sela seus lábios novamente. Isso me irrita e meus olhos grandes e expressivos deixam isso claro para ele, que sorri novamente. Ele está brincando comigo? Quem esse imbecil pensa que é?

- Fale logo como você me encontrou!

Ele alarga o sorriso e seus olhos parecem estar brilhando. Um brilho maravilhoso que me prende por alguns segundos, mas logo volto a atenção à minha revolta quanto à pergunta que ele não respondera.

- Não tem como você ter me encontrado. Não tem como você ter me descoberto. Eu permaneci aqui, o tempo todo. Ninguém nunca encontrou meu quarto, ele fica escondido e é escuro. Minha porta não tem forma. Nada aqui tem forma. Aqui é tudo bagunçado, tudo confuso. – eu falo enquanto novas lágrimas começam a se formar nos cantos de meus olhos, e o garoto para de sorrir – O caminho até aqui é fúnebre. Há muitas rosas. Rosas mortas e cheias de espinhos. Rosas que derramaram sangue e perderam sua cor. Como você chegou aqui? Os traços de sangue eu limpei. Eu os apaguei por completo. Tirei todo aquele sangue. Aquele sangue que era meu, que saiu de mim. Sangue que saiu dos cortes profundos em minha pele. Esse sangue não existe mais no caminho.

O garoto fica em silêncio, agora com uma expressão de profunda tristeza, olhando para mim e me assistindo chorar. Passo os dedos sobre meus olhos, enxugando-os. Coloco minha mão na frente do rosto do garoto, mostrando meus dedos.

- Veja. Nem mesmo sangue eu choro mais. Meu sangue agora insiste em ficar dentro de meu corpo. Insiste em me manter viva. Por que isso? Eu estava morrendo. Morrendo devagar, agonizando. O que você fez? Por que minhas lágrimas agora são tão normais? Por que eu não estou chorando sangue? Por que você fez isso? Por que tirou a cor das minhas lágrimas? Quem é você? Como você me encontrou?! – eu me desespero mais e mais, chorando cada vez mais alto, já não conseguindo falar.

O garoto parece confuso e angustiado com algo. Ele continua me observando e, finalmente, fala:

- Eu te escutei.

Passo as mãos pelo meu rosto e forço-me, novamente, a cessar o pranto. A voz do garoto me acalma um pouco. Sinto como se o conhecesse, agora que ele havia falado. Talvez o conheça de um sonho. Talvez ele seja o meu próprio sonho personificado. A única parte feliz de minha existência. Mas a parte feliz da minha vida não pode se misturar com o restante. Desse jeito ela corre perigo. Ela se arrisca. Ela pode ser consumida pela escuridão e morrer. Ela pode sumir. Não, não quero que ela suma para sempre. Quero que ela suma daqui, desse quarto que é só meu.

Além de tudo, o garoto não pode ter me escutado. Isso é absolutamente impossível. Eu nunca deixei e não deixo ninguém me escutar. Não quero que me encontrem e, ao menos nisso, eu sou competente – evito bem as pessoas. Construo muros.

- Mas como? Como me escutou? Eu agonizo calada. Choro baixinho, ninguém nunca me escutou antes. Eu não permito. Esse quarto é só meu. Esse inferno é só meu. Quem você acha que é? E conte-me a verdade, porque eu sei que permaneci calada durante esses anos todos. Você pensa que pode me iludir desse jeito? Você pensa que pode se iludir desse jeito? Você gosta de se machucar, de ferir-se à toa, por alguém que não vale a pena? Eu não quero que ninguém fique como eu estou. Quero distância de você. De vocês. De todos vocês.

O garoto aproxima seus dedos, vagarosamente, de meu rosto e o acaricia. Eu fecho meus olhos e sinto aquele toque suave. É algo prazeroso. É confortável. Subitamente não me sinto sozinha. Ele é o meu sonho. Ele é a felicidade que procuro. Ele é o que preenche meu vazio. Ele me causa uma sensação nunca antes sentida. Não por mim. É como se tudo de ruim estivesse afastado. É como se eu tivesse encontrado a essência da vida que nunca tive. Vida. Essa palavra parece fazer um certo sentido, agora. Agora que sinto a pele que me aquece e me acalma.

Abro meus olhos. O garoto os fuzila novamente, com os olhos dele. Ele ainda acaricia meu rosto e diz com extrema naturalidade:

- Eu escutei seu silêncio.

Ninguém nunca dissera algo do tipo para mim. Ninguém nunca dissera tanto com tão pouco. Ninguém nunca causara tanto com tão pouco. Mas eu não quero machucá-lo. Não quero torná-lo infeliz. Ele é lindo. Ele irradia beleza. Eu o quero. Eu quero esse garoto para mim. Quero que ele se torne a minha essência. Quero que ele seja meu, aquilo que eu não tenho. Que eu nunca tive.

- Eu te amo.

E ele me beija.