7 de fevereiro de 2011

Libertação

  Ela sempre quis saber o sentido daquilo tudo. Por que as coisas tinham que ser tão complicadas? Por que as pessoas não tentavam simplificá-las? Afinal, ela sempre teve muito claro em sua mente que, por mais que não ousasse encarar esse fato de frente, todos iriam morrer. Mais dia, menos dia, a hora de qualquer pessoa chegaria. Então, por que não viver mais rápido, evitar problemas e frustrações, aproveitar mais a vida? Por que as pessoas não valorizavam mais o ‘estar vivo’?
  Ela queria ser livre. Mas a liberdade que ela almejava ia muito além daquela desejada pela maioria das pessoas. Ela queria se libertar de tudo aquilo que fosse desagradável ou incômodo. Não queria perder tempo com nada que pudesse entristecê-la ou irritá-la. Ela evitava qualquer tipo de briga e não se deixava envolver demais com nenhuma situação. Era assim que ela gostava de viver. O restante do mundo que se explodisse.
  Ele nunca se importou com nada nem ninguém. Vivia sua vida mais ou menos, com um emprego mais ou menos, com relações mais ou menos. Estava sempre sob efeito de álcool e drogas, mas não via nenhum problema nisso. Aliás, a solução de sua vida estava ali, já que era o que dava a ele a sensação de liberdade.
  Ele nunca foi daqueles que pensam demais. Sempre evitou qualquer tipo de desgaste físico ou mental. Por que alguém gastaria a vida assim? O que ele queria era viver de verdade. Ou pelo menos no conceito que ele tinha de ‘viver’. O resto que se fodesse.
  Ele era perfeito para ela. Quando se conheceram, ela pensou que havia encontrado sua verdadeira alma gêmea, afinal, eles eram tão parecidos um com o outro. Eles se entendiam completamente. Tudo parecia muito certo. Mas ela guardava o ‘eu te amo’ para si mesma, e só. Falar uma frase dessas poderia arruinar a relação, mesmo que nem mesmo ela soubesse que tipo de relação era aquela. Além de tudo, amar não estava em seus planos e ia totalmente contra o ideal de vida de ambos.
  O tempo passou e já não existia mais ‘ela e ele’. Eles não estavam mais em sintonia. Enquanto ela pensava que eles diziam ‘foda-se’, juntos, para o mundo, ele dizia ‘foda-se’ para ela. Não dizia em palavras, porque não se importava o suficiente nem mesmo para deixá-la saber. Ela vivia iludida, e ele apenas vivia, como sempre fez.
  Era falsa a ideia de que ele estava apaixonado por ela, mas é irreal acreditar que ele nunca se deixara envolver, ao menos um pouco, com a suposta relação. Ele gostava daquela garota, mas descobriu nela algo precioso demais, raro demais. Ela era boa demais para ele suportar. E foi aí, ao sentir o peso que um sentimento poderia jogar nas suas costas, que ele resolveu continuar a vida que até então prosseguia. Sem aviso prévio ou alerta algum, ele sumiu da vida dela. E a vida sumiu dela.
  Ela descobriu que era impossível fugir do sofrimento, e seu conceito de vida começou a escapar do real. Isso aconteceu do modo mais cruel que ela conseguia imaginar. Veio acompanhado do sentimento de rejeição, da tristeza e da raiva. Raiva não só dele, mas também de si própria. Como ela deixou aquilo tudo acontecer? Ela que sempre quis ser livre, como deixou que se envolvesse tanto? Ela deveria ter fugido antes que fosse tarde demais, assim como ele fez. Mas ele o fez, porque pôde. Ela nunca pôde, porque sempre fora tarde demais.
  Perto dele, ela encontrava um lugar no qual queria ficar. Era com ele que ela se sentia segura, confortável, maravilhosamente bem. Os melhores momentos por ela vividos foram na companhia dele. Ela o amou e, se pudesse escolher, não haveria fugido desse sentimento que ao mesmo tempo a prendia e a libertava. Porém, ele não se permitiu amar e fugiu. Mas ela o guardou com carinho, em suas recordações. Ele também a guardou com carinho - ela foi o mais incrível desperdício de sua vida.

2 comentários:

Eugênio disse...

Embora a história seja triste, o texto tá incrivelmente lindo e mais uma vez você busca na inocencia do olhar d euma criança da Matilda a inspiração pra sua obra! Enfim, o texto tá incrível mesmo e você é muiiiito talentosa e eu sei que você sabe disso! Beijos
Te aaaaaaaamo

bárbara. :) disse...

curti